sinestesia e dor.

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não entendo como algo que nos afeta sentimentalmente pode nos afetar tanto fisicamente também.

a medicina explica isso?

é uma dor que começa no coração. pelo menos comigo é assim que rola. ela não chega a ser forte. mas é intensa, expansiva.

não sei se consigo explicar direito o que quero dizer com expansiva. é como se ela não ficasse só no coração, como se fosse pulsando até dominar totalmente o meu peito.

ela não é bruta como uma pontada. nem aguda como uma facada.

tem mais a ver com uma pressão. um peso colocado sobre mim, que aperta, aperta e aperta ainda mais.

acho que essa dor vai até a barriga. quando chega lá, ela dá um jeito de embrulhar tudo.

camufla a fome, camufla as dores de barriga, e até mesmo as minhas necessidades fisiológicas.

quando eu respiro fundo, ela fica mais forte. é como se ela fosse tão expansiva, que comprimisse meus pulmões e me impedisse de respirar.

e na hora de chorar então? além de fazer doer a garganta (ou fechá-la totalmente, melhor dizendo), quando eu choro ela se intensifica mais e mais. faz com que eu sinta uma ou outra pontada de dor mais forte.

mas o mais engraçado, é o que o meus sentidos sentem quando a dor aparece.

quando fecho meus olhos pra tentar aliviar a dor, vejo só um rosto. as vezes vejo uma silhueta também, de calça apertada e camiseta básica. e de vez em quanto, aparece de costas, sem camiseta, coçando a cabeça ou outra parte qualquer.

quanto tento me alienar e ignorar os sons ao meu redor para ver se isso relaxa a dor, juro que algumas frases típicas surgem em meus ouvidos. e é com a voz de uma única pessoa.

« junín con viamonte », por exemplo.

ou então a risada. aquela risada. ou a tal da voz me chamando de isadora. e sempre acaba soando em meus ouvidos também uma das últimas coisas que eu ouvi: « tenta parar de chorar, isadora ».

e eu queria conseguir.

juro que nesses momentos, consigo sentir o sabor amargo que meus lábios sentem quando tocam a pele quente. o sabor dos mil cremes de alergia.

sinto outra saliva na minha boca (e juro que ela é diferente das demais), e às vezes quando engulo, sinto outros sabores sabores também.

não importa se eu to passando na frente de um lixão ou de uma loja de perfumes, é a lembrança de um cheiro só que me domina. não é cheiro de perfume, nem de desodorante e nem mesmo de sabonete. é simplesmente um cheiro, cheiro que o corpo dele exala. e quando ta misturado com suor, o cheiro é melhor ainda. e é ele que ta dominando o ar aqui da biblioteca agora.

no tato, juro que sinto arrepios passando pela minha coxa. na minha mão, sinto a barba roçando. e quando toco qualquer superfície lisa, juro que sinto os carocinhos e as cicatrizes das costas manchadas que me acompanharam por muitas noites.

e a cada sentimento sinestésico, a saudade aumenta.

mas a cada dia também, aumenta a certeza de que nada disso vai passar de lembranças e utopias.

o que acaba reforçando a dor.

e reforçando a saudade.

e reforçando a certeza.

e reforçando a dor…

e reforçando a saudade…

e reforçando a certeza…

e reforçando…

 

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